20 de setembro de 2017

Parte 1 de 2: Isaurinha e Seu Fernando.

casal de velhinhos namorando

Pessoal, a primeira parte de "Isaurinha e Seu Fernando" para vocês! O conto compõe, juntamente com outros quinze, o livro Quilômetro Cinza e Outros Contos de Cabeça. Eles foram publicados na Amazon. Você pode comprar o eBook ($4,50), clicando AQUI, ou o livro impresso (USD15,50), que você compra acessando AQUI.  
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Isaurinha e Seu Fernando



Certa de que Seu Fernando levantaria faminto, Isaurinha já havia se levantado para ferver o café. E assou bolo de milho, pão salgado e fez uma jarra de suco espremendo doze laranjas que pediu para Seu Fernando comprar pessoalmente no dia anterior, no mercadinho do bairro. Igual o amor que expressavam um pelo outro não se via nada parecido.

Após tomarem o café, Isaurinha e Seu Fernando teriam um dia cheio. Aposentados, ainda davam duro trabalhando dentro e fora de casa. Isaurinha, para complementar a renda, minuciosa com as mãos, fazia bonecas de porcelana, que, com a ajuda do esposo, vendia aos finais de semana em uma feirinha de artesanato. E enquanto as fazia, Seu Fernando cuidava dos serviços da casa: varria o chão, lavava e passava a roupa, montava o umbigo no fogão para cozer o almoço e a janta, recolhia o lixo da cozinha e dos dois banheiros do sobrado, e ainda, como se lhe sobrasse o tempo de uma vida inteira, roçava a grama do jardim uma vez por semana. Reunia disposição para todas essas tarefas porque não queria cansar Isaurinha.

Era um casamento de décadas, daqueles amores que só cresciam.

Sábado. Isaurinha e Seu Fernando vendiam as bonecas na feirinha de artesanato instalada em uma praça. Grupos de meninas se reuniram em frente a barraca tão encantadas com a mercadoria que sequer piscavam ou fechavam a boca. Puxavam as saias de suas mães, as calças jeans de seus pais que haviam acabado de sair do trabalho e pediam para que eles as comprassem não apenas uma mas todas que apontavam com seus dedinhos miúdos. E quando finalmente compravam explodiam de alegria.

“Você quer uma dessas bonequinhas, minha filha?”

“Sim, papai.”

“Ótimo então! Qual você quer? Pode escolher.”

“Quero todas, papai.”

Mesmo sob reclamação, um dos pais não comprou todas que a filha quis, mas comprou logo as cinco mais trabalhadas que Isaurinha havia atravessado a sexta-feira fazendo com enorme dedicação. Além das que vendeu, o casal levara outras quarenta e cinco de diversos preços. Seu Fernando não era menos carinhoso nos momentos da venda. Atendia os clientes com dedicação e entregava as bonecas como se fossem filhas, filhas que nunca tiveram, e ainda pedia à meninada que cuidassem delas de forma igual.

“Aqui está a sua filhinha.” - dizia. - “Cuide dela com muito amor!”

Certa vez, permaneceram na feirinha até o meio da tarde, quando já havia passado um pouco o horário do almoço. Antes que recolhessem as bonecas dentro de uma mala para retornarem para casa, Isaurinha se deparou com uma menina mal vestida, acompanhada por um senhor que aparentava ser seu avô, olhando-as hipnotizadamente. Então, perguntou se ela havia gostado de alguma delas, se as achava bonitas.

“Sim. Sim. Elas são muito charmosinhas.” - respondeu, a menina mal vestida.

Cheia de compaixão, Isaurinha a presenteou com uma das bonecas. Primeiro, disse à menina que apontasse a que mais achara bonita, porém, ao ver sua vergonha em escolher uma, não hesitou e ofereceu-lhe a mais graciosa, que era também a mais cara das que haviam sobrado das vendas.

“Promete que vai cuidar dessa charmosinha com muito amor e carinho, minha querida?”

“Sim. Sim.”

O senhor que acompanhava a menina, enormemente agradecido pela bondade de Isaurinha se ajoelhou diante do casal e começou a chorar.

“Por quê está chorando, meu bom amigo?” - Seu Fernando perguntou.

“Por que vocês foram muito bondosos. Eu e minha neta não estamos acostumados a ter um tratamento assim.”

“Não estão?” - Seu Fernando o encarou com otimismo. - “Se acostumem então porquê os bons, mesmo em tempos sombrios, foram e sempre serão a maioria.”

Assim sendo, o senhor agradeceu ao casal e foi embora de mãos dadas com a menina mal vestida, que, feliz, abraçava calorosamente a boneca que havia ganhado.

No que se prepararam para deixar a feira então, Isaurinha avistou uma pequenina aranha armadeira sobre as pétalas amarelas de uma delicada flor. Recolheu a aranha dentro da cabeça de uma das bonecas que havia se desprendido do corpo.

“Podemos cuidar dela, querido?”

“Claro, minha vida, como quiser.”

FIM

5 comentários:

  1. Oh que amor nesse casal, adorei a resenha!

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  2. Legal sempre poder ler um conto ... eu particularmente sou muito preguiçosa para ler rsrsrsrs, mas sei que tenho que ler mais! Prefiro contos assim, muito bom!

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  3. Oi!!
    Eu adoro ler contos, este é maravilhoso. Este livro esta com o preço excelente 😀
    Bjo

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  4. Achei lindo o final dessa parte, o livro deve estar ótimo!

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  5. Gostei bastante, por mais que eu não seja fã de contos, eu estou bastante interessada no seu livro, amei. Você está de parabéns e prossiga no seu sonho, não desista porque ainda farei resenhas do seu livro. Beijos!

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