5 de setembro de 2017

Jack (Um Construtor de Faróis).


farol funcionando na noite

Amigos, hoje trago p/ vocês o conto de um certo construtor de faróis chamado Jack, escrito por mim. É o segundo conto da coletânea Quilômetro Cinza e Outros Contos de Cabeça, publicada na Amazon. Você pode comprar o eBook ($9,99), clicando AQUI.
Espero que gostem do conto!
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Jack (Um Construtor de Faróis)


Engenheiro na construtora do pai, a pessoa de quem o tratava de modo formal como John, Jack era um homem destinado a prosperar e os próprios acontecimentos conspiravam ao seu favor. Buscava tudo que queria, conseguindo tudo que buscava. Pediu demissão da construtora do pai para abrir a sua própria e casou-se dias depois.

Passado um mês do casamento, a esposa deu-lhe a maravilhosa notícia:

“É isso mesmo, Jack, eu estou grávida!”

Já seria papai então, porém, alegria maior teve ao saber que, três meses antes do parto, não teria apenas um bebê, mas três adoráveis menininhas. Descobriu por acidente esse maravilhoso detalhe. Haviam combinado, ele e a esposa, que só iam saber o sexo da criança no momento do parto quando, da cozinha da casa, ouviu a mulher cochichar, em êxtase, para uma amiga que gestava três meninas. Ficou feliz mesmo assim. Não deixaria que esse insignificante incidente atrapalhasse o casamento ou diminuísse a alegria que sentia.

Os negócios iam de vento e pompa, só não iam melhor do que os da construtora do pai, que construía faróis maiores que podiam ser avistados a uma distância maior. Os faróis construídos por Jack estavam crescendo no entanto. Rapidamente, passou a construir dois por ano.

As três filhas de Jack, farol por farol devidamente entregue pelo litoral do estado, cresceram sem que perdessem a doçura mas não se interessaram pelo ofício do pai. Talvez porquê nunca tivessem tido a avó por perto para influenciá-las a seguir na profissão como havia influenciado Jack, o mais velho de cinco filhos. A avó morrera um ano antes do nascimento das meninas, infartada em uma manhã de inverno. Aplicadas nos estudos, alegres, cheias de amigos: elas levavam uma vida feliz. Aos dezoito anos, as três saíram de casa e foram morar em outra cidade, onde ingressaram na universidade mais conceituada do estado. Jaqueline estudava para ser obstetra, Jenny, advogada, e Jill, para educar crianças, sonhava em ser professora.

E Jack não parava de construir faróis ao tempo em que também recusava trabalho. A construtora de Jack não crescia muito, mantinha sempre os mesmos trinta funcionários, pois não queria que seu trabalho fosse engolido pelos negócios e virasse servo do dinheiro. Sua turma construía os segundos melhores faróis do estado, nenhum exageradamente alto. Os primeiros e os mais altos eram construídos pelo exército braçal de seu pai. Foi então que Jack resolveu mudar certo dia depois de ir com a esposa visitar o pai, que lhe contara de um novo projeto: ia levantar o maior farol já construído no país, um farol cujo interior era revestido de mármore, automatizado e com equipamentos de última geração. Quando entregue, seria capaz de orientar o barco mais longínquo do porto. Viu-se invejoso do projeto, um sentimento que, com muita dissimulação e destreza, não deixou transparecer ao pai.

“Está na hora de construir o mais grandioso farol do estado, o maior que já construí.” - atestou a si próprio ao dirigir de volta para casa.

Contou a novidade à esposa, que ficou assustada inicialmente mas depois deu um caloroso beijo no marido, e começou então a construir seu ambicioso farol. Seria um presente às três filhas e à esposa. Poderiam passar as férias de meio de ano lá. Contratou mais mão de obra depois de fazer um grande empréstimo no banco. Demoraria dois anos para que ficasse pronto desde que começasse imediatamente. Em um mês, já havia comprado o terreno, um casarão abandonado na divisa com uma praia mais isolada da cidade, e estava terminando de aplainar o solo.

Desde o começo da construção, Jack enfrentou sucessivos imprevistos e dificuldades, mas não desistiu afinal era o maior farol que construía, o mais ambicioso, um símbolo de que era tão competente e capaz quanto o pai. Ora o material faltava e ele tinha que pedir um novo empréstimo no banco para continuar a obra, ora os trabalhadores entravam em greve, reivindicando melhores salários, ora o clima não cooperava, chovendo torrencialmente por dias. Acabou que a obra se estendeu além do planejado, um ano a mais, até que, enfim, ficou majestosamente pronta. Era o mais belo monumento da praia e podia ser visto há quilômetros de distância. John teria bastante orgulho do filho quando visse o farol finalizado.

Se aproximou então o dia de uma inauguração que nunca aconteceu. Na noite anterior à cerimônia cujo prefeito e autoridades do estado haviam sido convidados o farol ruiu e desabou sobre as próprias fundações, de fora para dentro. Só por sorte é que ninguém morrera. Foi notícia não apenas na cidade, também em outras partes do mundo.

O projeto faraônico de Jack fracassara estupidamente assim como a sua credibilidade de competente engenheiro e a sua batalhada fama de bom construtor haviam desabado junto com o farol. Endividado, empobreceu do dia para a noite e decretou falência. Semanas depois, Jack voltou a trabalhar na construtora do pai que não conseguia esconder a pena que sentia pelo fracasso do filho.

Desde o início, fosse melhor assim para Jack: levantar faróis que não os seus.

FIM

2 comentários:

  1. Aqui sempre tem boa literatura!

    Palabéns pela construção, querido!

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  2. Olá !!
    Adoro seus contos, e este foi mais um que vc caprichou *-*
    Parabéns pelo blog
    Bjs

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