Caros, olha eu aqui de novo!
Compartilho com vocês a primeira parte do meu conto intitulado Cabeça de Cachorro. É o terceiro conto da coletanea Quilômetro Cinza e Outros Contos de Cabeça, publicada na Amazon. Você pode comprar o eBook ($9,99), clicando AQUI.
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Cabeça de Cachorro (PARTE 01)
“O amor é assim na vida mas não é com todos.” - ele dizia para todos essa frase.
Antes que a madrugada desse passagem a mais um dia e a primeira alma viva surgisse para a missa na Igreja Matriz São Francisco de Sales, construção principal da Rua do Leite, Barilari abriu sua pequena banca de jornais e revistas. O dia anterior havia sido fraco. Quase não tinha conseguido vender nada e externou confiança de que venderia mais naquele dia, que sobraria algum trocado para pagar as contas atrasadas da casa e para pegar um cineminha no próximo final de semana, com a mulher e os filhos. Até que, aquele que pensou ser o primeiro cliente do dia, não demorou a chegar: um menino maltrapilho que caminhou até a frente da banca.
“Pois não, garotinho, o que procura? Está perdido? Como se chama?” - saiu da banca mostrando-se atencioso.
O menino nada respondeu. Deu-lhe as costas, caminhou até um banco de cimento próximo e lá ficou.
Barilari permaneceu dentro da banca, de onde, não conseguindo deixar de se mostrar preocupado com o menino, ia olhar para o banco vez ou outra para ver se continuava lá, sentado e sem ninguém. “Está com fome? Tem sede?” - o menino continuou sem falar com Barilari.
Foi então que se levantou e voltou para a frente da banca, onde Barilari separava uns jornais velhos das revistas de esporte.
“É Gustavinho.”
“Que foi que disse?”
“Disse que meu nome é Gustavinho.”
“Então você fala!” - Barilari comemorou. - “Gustavinho é seu nome?” - buscou confirmação.
“Sim.”
Barilari guardava em uma mochila dois sanduíches que comeria no almoço. Ofereceu-os junto com uma garrafinha de suco de laranja e outra com água. O menino assassinou a fome e a sede ali mesmo, sentado na entrada da pequena banca de jornais. Depois que comeu os dois sanduíches e tomou toda a garrafinha com água e a de suco de laranja, Gustavinho ia se levantando para ir embora quando Barilari perguntou:
“Você mora e dorme onde, garotinho?”
“Eu moro onde der para eu morar, não tem importância, e durmo onde ninguém fica me olhando. Ninguém gosta de gente vendo a gente dormir, não é verdade? Aqui na praça, ali na porta do banco, onde der eu fico.” - Gustavinho voltou a se sentar na entrada da banca.
Depois da resposta, Barilari teve a inequívoca confirmação de que o menino vivia realmente nas ruas, conforme havia concluído. Imediatamente, encarou-o com doçura, zelo e carinho.
“Também não gosto de ser observado dormindo. Ninguém gosta, você tem razão. Posso lhe fazer companhia por hoje?”
Gustavinho acenou que sim com a cabeça.
“Nunca te vi na praça e olha que faz anos que trabalho aqui. Não acha engraçado, Gustavinho?”
“Talvez.” - o menino respondeu. - “Eu sempre vou de um lugar para o outro todo dia e toda hora. Qual é o nome dela?”
“Dela, quem?”
“Da praça. Onde eu disse que dormia!”
“Praça da Rua do Leite.” - Barilari respondeu. - “Bem, na verdade, a praça não tem nome, não. Nós é que a chamamos de Praça da Rua do Leite porque fica na Rua do Leite. E aquela é a Igreja Matriz São Francisco de Sales.” - apontou para a construção que se destacava no centro da praça.
“Construíram uma igreja em uma praça que não tinha nome?”
“Sim.” - Barilari sorriu diante da ingenuidade do menino.
“Então, se aquela é a Igreja Matriz São Francisco de Sales e a igreja fica dentro da Praça da Rua do Leite, o nome da praça deveria ser Praça da Igreja Matriz São Francisco de Sales e não Praça da Rua do Leite, não é verdade?”
“Acha mesmo isso?” - Barilari incentivou-o a continuar argumentando.
“Sim.” - Gustavinho garantiu.
“Você é um menino muito inteligente, Gustavinho.”
O homem e o menino ainda conversaram interessadamente sobre a praça por mais alguns minutos até que uma mulher veio caminhando até a banca.
“Que deseja, senhora?” - Barilari se apressou a atendê-la.
“Um jornal, por favor.”
“Qual desses a senhora quer?” - indicou um mostruário na parte de fora da banca.
“Esses não, quero um outro, o mais velho que tiver."
Barilari apanhou embaixo do balcão um jornal que havia pegado para ler no dia anterior e mostrou à mulher.
“Pode ser esse?”
“Esse é o mais velho que você tem?”
Barilari respondeu com educação:
“Sim, senhora.” - explicou educadamente. - “Geralmente, quem compra jornais gosta de ler as notícias do dia. É para isso que servem: para contar o que acabou de acontecer ou está acontecendo. Coisas da modernidade, sabe?”
Convencida de que o jornaleiro estava errado, a mulher replicou:
“Bobagem! Os melhores jornais são os antigos, pode acreditar, porque aí sim é que a gente sabe se ele é sério ou não. Repito, bobagem! Como jornaleiro, já devia saber isso."
Barilari não quis discutir. Fez com a cabeça que concordava com a mulher, que, por sua vez, ao ver que Gustavinho a observava com especial atenção, mudou de assunto e perguntou ao jornaleiro:
“Esse garotinho bonito é seu filho?”
“Talvez.”
“Talvez sim ou talvez não?”
“Talvez sim. É um filho de alma que eu acabei de ganhar. O nome dele é Gustavinho.”
A mulher se dirigiu ao menino.
“Olá, Gustavinho!”
“Olá, dona.”
“Dona não, por favor! Pode me chamar de Vânia.”
“Vânia?”
“Vânia, isso mesmo.”
“Certo então. Vou te chamar de Vânia, Vânia.”
“Obrigada, Gustavinho.”
“De nada, Vânia.”
LEIA A SEQUÊNCIA DO CONTO NA PRÓXIMA POSTAGEM!

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