Se Liza podia
ser considerada uma sólida e intransponível fortaleza, a
menina, por sua vez, também era um oceano de doçura e
persistência, cuja as ondas têm o poder de penetrar quaisquer
muralhas.
Liza não resistiu ao sorriso de Klara. Perguntou:
"Qual história você quer?"
"Aquela da montanha." - respondeu,
a menina, antes de um acesso de tosse. Conhecia a história, mas
pouco se lembrava dela. - "Mamãe, o que eles eram mesmo?" - perguntou, referindo-se aos
personagens da história.
"Ciganos." - respondeu, Liza. - "Eles
eram anjos ciganos."
"E existem anjos ciganos, mamãe?"
"Sim, minha princesa." - respondeu à menina. - "Eles
existem."
Deitou-se, então, ao lado da filha e, penteando com os
dedos seus cabelos encaracolados, começou a contar a
história:
"Havia uma montanha majestosamente cheia de vida.
Ela era tão grande e tinha tantas árvores que só se podia
vê-la, por inteiro, de muito longe." - imediatamente após
começar a contar a história, Klara fechou os olhos e foi imaginando
a montanha, os anjos, as árvores e tudo o mais que julgava
caber nela. Com os olhos fechados e o coração totalmente
aberto, a menina de Gabrovo viu-se saudável, livre da peste cinzenta
que a fazia sofrer, e o ar preenchia seus pulmõezinhos com
incrível facilidade. - "Dizem que a montanha foi nos oferecida por Deus em resposta à bondade dos homens." - Liza prosseguiu. - "No
alto dela, bem perto do céu, os anjos ergueram um acampamento e
não havia um só dia em que os anjos não dessem banquetes e
não festejassem a vida..."
"E Deus?" - ainda com os olhos
fechados, a pequena interrompeu a história.
Sem entender a
pergunta, Liza a encarou.
"O
que tem, Ele?"
"Deus também mora, com os anjos, na montanha?" - perguntou, Klara.
"Deus vivendo num acampamento!" - a
jovem mãe exclamou e fez uma careta, arregalando os olhos. - "Sim,
querida." - respondeu, levantando-se da cama. Logo em seguida,
antes de voltar a deixar o quarto, beijou a filha no rosto e
perguntou. - "Onde mais Ele moraria, senão com os anjos?"
Klara,
logo em seguida, se apressou em pedir:
"Mamãe, me conta
outra história."
"Sinto muito, mas já chega de histórias." -
firmemente, Liza negou o pedido, explicando. - "Tenho muito
serviço para fazer na cozinha e você precisa descansar."
A
jovem mãe deixou o quarto e Klara, então, em meio aos acessos de
tosse que a afligia, fechou os olhos e forçou-se a dormir.

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