“José, as pessoas estão morrendo lá embaixo e você não vai para lá, ouviu bem? Agora, vai para o chuveiro!”
“Mas mãe!”
“Mandei você ir!”
José foi
resmungando tomar banho.
Apenas uma bronca
dificilmente funcionava com ele. Corajoso, nada parecia amedrontá-lo.
Tinha um passatempo pouco comum aos meninos de dez anos, mas não era
o único menino. Juntava uma galera de cinco amigos e punham-se a
percorrer as manilhas de Vitória, e não eram poucas as que eles
exploravam. Ficavam horas na escuridão, sem que vissem coisa alguma
à frente dos narizes, procurando um tesouro perdido, um baú cheio
de ouro que ninguém havia se dado ao trabalho para encontrar.
Líder dos
exploradores, José foi advertido por sua mãe certa vez:
“Meu filho, você
perde um tempo precioso fazendo isso.” - disse, Venezuela. - “Busca
um tesouro que não existe. Bem que podia procurar outra brincadeira,
uma que não fosse perigosa: como jogar bola por exemplo!”
“Mas jogar bola é
muito chato e eu não gosto.”
Outra vez, em um
daqueles incomuns dias quentes de pleno inverno, Venezuela o flagrou
entrando em casa todo sujo e cheirando a merda. Após repreendê-lo,
ela o segurou pela orelha e o levou até o banheiro.
“Quantas vezes
precisarei repetir para que acredite que não existe tesouro algum?”
- perguntou ao filho tampando o nariz. - “Só vai sair debaixo do
chuveiro quando estiver bem limpinho, seu pequeno porcalhão!”
Venezuela
fechou a porta e voltou aos afazeres ao tempo em que o filho tomou o
banho. Não deu tempo para José dizer
nada.
José
Estrada procurava um baú cheio de ouro escondido no
arquipélago por piratas. Tinha certeza que ele existia. - “Eu vou
encontrá-lo antes que os piratas voltem!” - vivia dizendo a si
próprio.
Era óbvio que
Venezuela nunca aprovasse tais aventuras. Que mãe cuidadosa
aprovaria? José não voltou para o esgoto naquele dia, porém, na
tarde do dia que se seguiu, o pequeno explorador de esgoto esperou um
descuido da sua mãe, que ela relaxasse a vigilância, pulou a janela
do quarto e reuniu os amigos para procurar o tesouro.
A procura teve
início quando ele e os amigos entraram em um córrego seco, por onde
ingressaram na tubulação de esgoto. Tudo ao redor fedia como
pouquíssimas coisas no mundo seriam possíveis de feder, o que não
intimidou José de seguir em frente.
“É hoje que a
gente acha ele!” - incentivou-os.
Contagiava os amigos
com o seu destemor, mesmo assim, logo começaram a reclamar do mal
cheiro.
“Eca, que cheiro
horrível!”
“É só você
tapar o nariz que não sente nada.”
“Que cheiro de
cocô! - a voz de outro menino ecoou por boa parte da tubulação.
“Continuo sem
sentir cheiro de nada. Quando a gente encontrar o tesouro, qualquer
fedor vai ter valido a pena.”
“Tem certeza que
não está sentindo cheiro nenhum?”
“Tenho.”
O amigo que vinha
logo atrás duvidou imediatamente.
“Como se isso
fosse possível, José.” - disse. - “Parece até que a gente caiu
dentro de uma fossa!”
“Parecem umas
menininhas reclamando desse jeito!” - José não deu a menor
importância à reclamação dos amigos. - “Eu não sinto cheiro
nenhum.”
Os amigos exclamaram
em resposta:
“A gente vai
fingir que acredita!”
“Eu estou quase
vomitando!”
“E eu então:
estou quase desmaiando!”
Ora discutindo, ora
reclamando, prosseguiram com a exploração. Não
enxergavam absolutamente nada; tateavam o caminho. Parecia que
caminhavam pela tubulação por horas e horas. Foi então que,
momentos depois, uma luz de esperança pareceu se ascender quando
José percebeu alguma coisa raspar no fundo da manilha e parou de
caminhar.
“Ouviram?” -
perguntou aos amigos.
“Que foi agora?”
“Achou o nosso
tesouro?”
“Não sei, acho
que não.” - José respondeu.
“Que é então?”
José
dobrou os joelhos, enfiou a mão na água podre e apanhou uma
bolachinha de metal que estava embaixo
de seu pé.
“É
uma moeda!” - comemorou.
“Achou uma moeda?”
“Isso mesmo, eu
encontrei uma moeda!”
Os meninos se
rebelaram:
“Só uma moeda!”
“Todo esse
sofrimento por nada!”
“Procura direito,
José, quem sabe você não encontra mais!”
“Esse é o nosso
fantástico tesouro então? Hein, José Estrada, o menino da mamãe
que inventa tesouros!”
“Aposto que essa
moeda, assim como a gente, está fedendo a bosta também. Por que não
dá uma lambidinha nela, José?”
O primeiro dos
amigos que haviam se rebelado, logo em seguida, cansado de tanto
falatório por nada, propôs:
“Ora
bolas, pessoal, é simples: a gente continua caminhando e acha mais
moedas, a gente acha todas que tiverem.”
José Estrada ficou
em silêncio, apenas tateando a moeda que havia encontrado. O
segundo menino,
por sua vez, concordou com a proposta feita pelo amigo.
“É
isso aí.” - disse. - “Se a gente encontrou uma moeda,
deve haver mais; quem sabe até milhares de moedas só para a gente.
A gente vai ficar milionário!”
“Está decidido
então, e ponto final.” - o terceiro concluiu. - “A gente segue
adiante e procura o resto do tesouro.”
Para o inconformismo
dos meninos, José Estrada não saiu do lugar. Eles o interrogaram:
“Que aconteceu?”
“Por que não está
andando?”
“Encontrou outra
moeda?”
“Não.” - José
respondeu.
“Qual o problema
então?”
“Vocês não
ouviram?” - José perguntou de volta.
“Ouvimos o que?”
“Um trovão.” -
José respondeu.
“Está com medo de
um trovãozinho agora!”
“Era só que
faltava: José tem medo de trovão!”
Além
de destemido, José Estrada também era um menino esperto e
perspicaz. Sabia que o trovão anunciava chuva cujas águas encheriam
a tubulação de esgoto do arquipélago, justamente por onde
caminhavam naquele momento.
Tinham que sair dali o mais rápido.
“Não
estou com medo do trovão, seus idiotas, é que, se começar a
chover, a gente não pode mais ficar aqui.”
“Por que não?”
- ainda sem entender, um dos amigos perguntou.
“Porque a água da
chuva vai vir direto para cá, ou seja, a gente vai morrer afogado.”
- José explicou em tom de voz apavorado. - “Mais alguma pergunta
ou podemos dar o fora daqui?”
José e os amigos
deram meia-volta e puseram-se a correr em direção ao córrego seco.
“Puxa
vida, só agora é que você avisa a gente!” - um deles
reclamou para José.
Como havia sido o
primeiro a entrar na tubulação, José Estrada era o último a
correr.
“Se
não quiser morrer afogado, fecha a boca e continue correndo.” -
respondeu.
A chuva atingiu toda
a extensão do arquipélago. Veio timidamente, mas logo acinzentou o
céu por completo, transformando-se em uma forte tempestade. As águas
não apenas encheram as tubulações de esgoto como inundaram bairros
inteiros e fizeram correnteza no córrego seco e em todos os outros
leitos, e até em algumas das ruas de Vitória. Contudo, os meninos
conseguiram sair da tubulação antes que começasse o temporal e
ninguém se afogou.
“Não
vão me agradecer?” - José cobrou os amigos no caminho de volta
para suas casas.”
Os meninos bancaram
os durões. Disseram:
“Mas
por que acha que a gente deveria te agradecer, hein?”
“É isso aí, você
quase mata a gente!”
“E foi por pouco,
muito pouco!”
“E a gente
continua fedendo a bosta além de tudo!”
José Estrada não
acreditou no que ouviu. Defendeu-se:
“Vocês são uns
mal agradecidos! Se eu não escutasse o trovão, todo mundo estaria
lá embaixo agora! Todo mundo! De nada, galera!”
*****
No dia seguinte do
temporal, pela manhã, Venezuela mostrou-se determinada em pôr um
fim nas aventuras irresponsáveis do filho.
“José, preciso
falar seriamente com você.” - disse, entrando no quarto do filho
que ainda dormia. E parecia mesmo ser muito sério o que tinha para
falar pois ela logo se sentou na cama, com o semblante fechado.
“A gente conversa
depois, mãe.” - em resposta, José afundou o rosto no travesseiro.
“Depois coisíssima
nenhuma!” - Venezuela chacoalhou o filho pelos ombros. - “Vai
logo, acorda! - mandou.”
“Mas, mãe, eu
estou com sono!” - o menino se recusava a acordar.
“Problema seu,
José!” - Venezuela o chacoalhou com mais energia. - “Não vou
deixá-lo dormir até que se vire para mim e me escute!”
“Está bem.” - o
líder dos exploradores de esgoto finalmente se sentou na cama. -
“Que você quer?” - perguntou com falta de respeito.
“Olha como fala
comigo, moleque!” - Venezuela o repreendeu no mesmo instante.
José Estrada mal
conseguia abrir os olhos, tamanho era o seu sono.
Horas antes, no comecinho da noite anterior, ao ver o filho abrir a
porta e adentrar a sala, iluminado pelos relâmpagos do temporal,
Venezuela já o esperava por quase uma hora, com o coração
espremido nas mãos.
“Onde
você estava?”
“Brincando com os
meus amigos.” - José mentiu. - “A gente estava jogando bola.”
“Jogando bola?”
“Sim.”
“Não é verdade!”
- furiosa ao perceber a mentira, Venezuela Estrada se levantou do
sofá e segurou o filho pelo braço. - “Onde você estava?” -
repetiu a pergunta.
“Estava
procurando.” - José confessou então.
“Procurando o
que?”
“Fui procurar o
tesouro.”
Imediatamente após
José confessar que havia ido procurar o tesouro novamente, ou seja,
que havia desobedecido sua mãe, um relâmpago fez iluminar a
paisagem na janela seguido por um trovão que, com um forte estrondo,
assustou até mesmo José ao fazer com que a
casa estremecesse.
“Estou
muito decepcionada com você, José. Não acredito que me desobedeceu
de novo depois de tudo que falei. É isso mesmo que eu ouvi? Me
desobedeceu? Será que não percebe o perigo destas aventuras
estúpidas que você inventa, José?”
O pequeno nada
respondeu à sua mãe. Limitou-se a olhá-la, vez ou outra, com a
cabeça abaixada.
“Estou esperando.
Por que não responde as perguntas?”
José continuou em
silêncio e com a cabeça abaixada.
“Vai para o
banheiro se livrar destas roupas imundas e tomar um banho bem
quente.”
José obedeceu
Venezuela sem reclamação.
Passado o temporal,
os estragos eram visíveis por todo o arquipélago, as ruas estavam
cheias de lama e dezenas de árvores podiam ser vistas caídas como
gigantes frondosos desmaiados. Contudo, o céu e a claridade da manhã
do dia seguinte em nada denunciavam uma tempestade. José resistia em
continuar dormindo.
“Mas hoje é
sábado, mãe, não tenho aula hoje! Estou com sono!”
“Eu sei que hoje é
sábado. Quero falar com você.”
“Que eu fiz dessa
vez?”
Venezuela suspirou
com demora e respondeu:
“Eu te proíbo de
entrar no esgoto novamente, ouviu bem?”
“Por que?”
“Porque eu sou sua
mãe e estou lhe dando uma ordem!” - Venezuela fechou o semblante
do rosto. Embora estivesse brava, não resistiu ao próprio coração
mole e o confortou logo em seguida. - “Tenho muito orgulho de você,
meu filho, e respeito seu espírito de aventura, de coragem, nunca
duvide disso, é que me faz muito mau ao se colocar em perigo. O
esgoto é um lugar sujo, cheio de bicho e de coisa ruim, e você pode
ficar doente. Só estou te pedindo isso, compreende o que peço?” -
perguntou.
Como
se não houvesse ouvido a pergunta, José se inclinou para o lado e
enfiou a mão embaixo do travesseiro.
“Olha, eu achei
essa moeda.”
“Uma moeda?” -
Venezuela pegou a moeda e a analisou por alguns segundos. - “Onde a
encontrou?” - quis saber já desconfiando da resposta.
“Encontrei no
esgoto.”
“No esgoto?”
“Sim, e tem muito
mais lá!”
“E
por que você presume isso com tanta certeza, José? Como pode
saber que tem mais?”
“Mas eu sei que
tem.”
No que
respondeu, a ingenuidade fez brilhar os olhinhos negros de José.
“Claro que você
sabe, como não poderia saber?” - Venezuela reagiu com ironia. E
concluiu no mesmo instante. - “O tesouro que você procura existe
afinal, não é mesmo? Eu é que teimo em dizer que não. Tudo faz
sentido agora.”
José olhou para
Venezuela com enorme felicidade ao ouvi-la reconhecer finalmente que
o tesouro existia.
“Acredita em mim
agora?” - perguntou.
Esperançoso, pegou
a moeda de volta, porém, Venezuela fingiu não ter notado a
felicidade repentina do filho e nem ouvido sua pergunta.
“Está vencida.”
-disse.
“Que é que está
vencida?”
“A moeda.”
“Vencida?”
“Sim,
José.” - Venezuela apontou para a moeda nas mãos do
menino. - “A moeda que você encontrou no esgoto é antiga e está
até enferrujada nas bordas, ou seja, não vale mais nada.”
Ao saírem do esgoto
e voltarem para suas casas antes que se agravasse o temporal, os
meninos haviam aceitado José como o guardião da moeda até que se
reunissem de novo e decidissem o que fazer com ela.
“Tem certeza que
ela não vale nada mesmo, mãe?” - perguntou, decepcionado.
“Tenho, José.”
- Venezuela se levantou da cama, permitindo que o filho voltasse a
dormir, mas não deixou o quarto antes de lhe dirigir a palavra uma
última vez. - “Já ia me esquecendo o porquê de tê-lo acordado:
está de castigo.” - disse. - “Não vai se encontrar com seus
amigos por uma semana, me entendeu?”
“Está bem, mãe.”
- José voltou a dormir.
O contrário
do que se podia imaginar, José Estrada não ficou
chateado com o castigo que recebeu. - “Eu
não posso reclamar, não sei como mamãe não me proibiu
antes.” - pensou. Teve plena consciência de que mereceu.
*****
Não havia um dia no
qual José não se lembrasse de seu pai, Antônio José Estrada.
Secretário de Obras da Prefeitura de Vitória, Tozé quase não
parava em casa para desfrutar das companhias do menino e da esposa.
Por dias e noites, em períodos que se seguiam, dedicava todo seu
tempo ao trabalho e mal via o filho que jurava tanto querer bem. Era
um pai ausente, um trabalhador que vivia sempre por nobres intenções,
tentando fazer com que suas obras se tornassem verdadeiramente
públicas. Foi quando o impensável aconteceu: abandonou a família e
o emprego. Pôs três punhados de roupa em uma mala no que chegou em
casa, em uma tarde de segunda, deu um beijo seco na testa do filho e
encarou, por alguns míseros segundos, uma Venezuela que chorava
copiosamente, e, ao atravessar a porta da sala, foi embora sem dar
explicação.
“Se ele estivesse
aqui, acreditaria que meu tesouro existe.” - José nunca perdeu a
esperança de reencontrá-lo. - “Iria até procurar o tesouro
comigo sem descanso; a gente não pararia por nada, não mesmo.” -
não havia um só porquê de pensar o contrário.
De castigo, José
Estrada afundou o rosto no travesseiro e dormiu mais um pouco.
Não reuniu os
amigos naquela semana para procurarem o tesouro, cumprindo o castigo
com absoluto sucesso, no entanto, a preocupação de Venezuela só se
fez crescer. Na semana que se seguiu, em uma quinta-feira ensolarada,
o primeiro morango foi avistado boiando nas águas da Baía de
Vitória, nas proximidades da Terceira Ponte. José voltava da
escola. Assim que abriu a porta da sala, ficou em silêncio ao ouvir
Venezuela conversando com uma amiga na cozinha.
“Que
desgraça, que atrocidade!” - a amiga se mostrava horrorizada. -
“Quem será que fez uma coisa dessas?”
Venezuela respondeu:
“Não faço ideia.
Um louco, um desequilibrado, um psicopata talvez. Com certeza, só
pode ser obra de um doente. Acha que ele mora no arquipélago?” -
perguntou à amiga na sequência.
José
grudou o
corpo atrás de uma parede, ainda mais
silencioso. Curioso, queria descobrir sobre o que elas falavam
afinal. - “Que será que aconteceu?” - perguntava-se a todo
momento. Continuou
ouvindo.
“Também
não faço ideia” - a amiga respondeu. - “É possível que
sim.”
Assim como havia
chegado aos ouvidos de Venezuela, do pequeno José e da amiga, a
notícia se espalhou com rapidez e não havia no arquipélago quem
não soubesse do crime. O morango ainda boiando na baía, a multidão
parecia se multiplicar sobre a ponte para vê-lo: um comportamento
macabro, mas nada incomum às multidões.
“Ainda não sabem
o nome da vítima.” - a amiga continuou. - “Um policial comunicou
a uma repórter do noticiário das nove que ela tinha, provavelmente,
mais de quarenta anos e que sofreu muito antes de morrer. Certamente,
a polícia já deve estar investigando o que aconteceu.”
“Disse que sofreu
muito?” - Venezuela não disfarçou a pena que sentiu do morango.
“Sim, disseram que
a cabeça estava muito machucada. Por que está me perguntando isso?”
“Porque eu estou
preocupada.”
“Preocupada com o
que, exatamente?”
Conforme a conversa
avançou, José grudou ainda mais a orelha na parede, se esforçando
para ouvir absolutamente tudo que a mãe e sua amiga diziam. Foi
então que Venezuela notou que não estavam mais sozinhas ao ver no
chão, próxima da porta, a sombra do filho.
“Como foi o dia na
escola?” - Venezuela o perguntou.
O menino permaneceu
em silêncio.
Venezuela insistiu:
“Eu lhe fiz uma
pergunta, José. Como foi o dia na escola?”
“Foi bom.” -
José respondeu finalmente. - “Aprendi muita coisa nova. Estou
ficando cada vez mais inteligente.”
“E tem lição de
casa?”
“Aham, tenho uns
problemas de matemática e tenho que escrever uma redação sobre a
qualidade da água que a gente bebe.”
Nesse meio tempo, a
amiga observava José como quem via muita graça no modo despojado
como o pequeno se comportava.
“Como vai José?”
- perguntou.
“Bem.”
“Vai bem mesmo?”
“Aham, e você?”
“Eu vou bem,
obrigada por perguntar.” - a amiga agradeceu.
José se despediu
das duas em seguida e foi direto para seu quarto,
onde colocou a mochila encima da cama e livrou-se do uniforme sujo e
suado para que Venezuela pudesse lavá-lo. Usaria
no dia seguinte.
Novamente sozinhas,
Venezuela perguntou à amiga:
“Onde a gente
estava na conversa?”
“Você não me
respondeu.” - a amiga voltou a se sentar em uma cadeira. - “Falou
que estava preocupada mas não disse o porquê.”
“Estou
preocupada com tudo.” - Venezuela respondeu. E justificou a
preocupação. - “A gente não sabe se o assassino que jogou aquela
cabeça na baía, enquanto estiver a solta, vai continuar matando.
Tenho um forte pressentimento que sim. Ele pode ser também um
estuprador, um sequestrador, um maníaco ou sabe-se lá mais o que.”
- em seguida, perguntou à amiga. - “Acha que não tenho razão de
ficar preocupada?”
No que a indagou,
Venezuela Estrada fez um
longo silêncio.
“Bom,
pensando bem, tem razão de se preocupar.” - a amiga concordou. -
“Não havia pensado pelo seu ponto de vista.”
Findada a conversa,
a amiga se despediu de Venezuela e foi embora.
*****
De repente, ouviu-se
uma voz chamar pela janela:
“José, você está
aí?”
José reconheceu a
voz no mesmo instante em que a ouviu. Era um de seus amigos
exploradores de esgoto. Se levantou da cama, na qual havia se deitado
para descansar um pouquinho, e foi até a janela, de onde viu que o
amigo estava acompanhado dos demais exploradores de manilhas.
“Estou sim.” -
José respondeu então. - “Que vocês querem?” - emendou.
Antes que o amigo
tivesse tempo de responder, um outro perguntou de volta em tom de
cobrança:
“Por
que você não procurou mais a gente?”
“Eu não pude,
minha mãe me colocou de castigo.”
“Por que?” -
outro menino quis saber.
“Porque a gente
foi procurar o tesouro aquele dia e ela não gostou de eu ter ido.
Brigou comigo.” - José encarou os amigos, entediado, deixando
claro que não queria falar sobre o assunto. - “Que vocês querem
afinal?” - repetiu a pergunta.
Sem cerimônia, os
amigos disseram:
“A gente vai atrás
do tesouro.”
“É isso aí, você
não vem com a gente?”
“Anda logo que a
gente está com pressa!”
Nesse meio tempo, na
parte dos fundos da casa, Venezuela pendurava no varal o uniforme de
escola de José e algumas outras peças de roupa para que pudessem
secar.
“Está
bem, eu vou com vocês.”
Colocou uma
perna para fora da janela, depois a outra e pulou no quintal o mais
silencioso que pôde. Logo, não demorou para que aparentasse estar
eufórico com o reinício da aventura: desceram as ladeiras do Morro
do Cruzamento e já caminhavam pelo centro da cidade, em plena
Avenida Vitória. Foi quando José Estrada surpreendeu os amigos ao
revelar que, na verdade, não queria mais procurar o tesouro, mas,
sim, encontrar o assassino do morango.
“Por
que?” - um dos amigos perguntou.
“Porque o nosso
tesouro agora é outro.” - José respondeu. - “O assassino é o
nosso novo baú cheio de ouro, um tesouro muito mais valioso.”
Os amigos se
entreolharam, chocados, sem entenderem o que José queria dizer.
“Ficou maluco da
cabeça?”
“Não,
não fiquei.” - José respondeu, inabalável. Seguro e
convicto do seu novo objetivo, explicou o plano. - “Todo mundo está
com medo do assassino e a polícia deve estar procurando ele dia e
noite. Se a gente pegar ele antes, a gente vai ficar famoso no mundo
inteiro e milionário de tanta recompensa que vai receber.”
Os amigos se
entreolharam novamente. Interrogaram-no:
“E como é que a
gente vai conseguir pegar o tal assassino?”
“É muito mais
fácil ele cortar as nossas cabeças e jogar no mar também, assim
como fez com aquele morango.”
“Essa sua ideia
não tem o menor sentido, José, não tem mesmo!”
“A gente vai
procurar o tesouro com ou sem você. E ponto final!”
José Estrada não
se deixou abalar com a reação negativa dos amigos diante da sua
ideia. Provocou-os:
“Está bem então,
não precisam vir comigo se não querem.” - disse. - “Eu sei o
porquê que não estão a fim de procurar o assassino: não querem
por que estão com medo.”
As palavras de José
soaram como ofensa aos ouvidos dos meninos. Reagiram com valentia:
“Que papo é esse
de medo?”
“A gente não está
como medo, não!”
“É isso aí, eu
também não estou com medo!”
“Já que faz tanta
questão, a gente vai procurá-lo com você, seu idiota!”
Começaram a
procurar pelo assassino então. Não tinham ideia de como o
encontrariam, o que não os fizeram desistir. Caminharam e
caminharam; viram-se diante de prédios, casas e estabelecimentos
comerciais; caminharam tanto que chegaram em uma praia isolada, na
qual uma espessa neblina e um céu branco davam-lhe um aspecto
agoniante, depressivo.
No que puseram os
pés na areia, avistaram um pescador sair de dentro de um barco a
remo. - “Já sei, ele pode ajudar a gente a capturar o assassino!”
- José exclamou aos amigos que concordaram com a ideia. Foram até o
homem.
“Aonde
estão indo, garotos?” - o pescador perguntou assim que os
viu. - “Que fazem aqui?”
“A gente está em
uma missão muito importante.” - José respondeu. - “Estamos
procurando o assassino do morango encontrado na baía. Ele é um
homem muito perigoso. Tome cuidado, senhor pirata!”
O homem, ao ouvir
ser chamado de pirata, se conteve para não rir.
“Acha
mesmo que eu sou um pirata?” - perguntou.
“Claro que sim.”
- disse, José, apontando para o barco. - “Você tem até um navio
fantasma. É um pouco pequeno e diferente daqueles dos filmes que
passam na TV mas é um navio fantasma. Eu sei que é.” - no que
disse, olhou para os amigos que encaravam o homem com certa
desconfiança. Não tinham a mesma certeza de que o pescador era, de
fato, um pirata.
“E enquanto a
vocês, garotos? Também acham que eu sou um pirata?”
Com medo, os meninos
responderam:
“Sim, eu acho que
sim.”
“Um pirata
disfarçado de pessoa comum.”
“Talvez, a gente
nunca viu um pirata antes.”
“Não está
procurando o nosso tesouro, está?”
Definitivamente,
aqueles meninos fantasiavam com tudo. Ao ouvirem um dos amigos
perguntar se o homem estava interessado no tesouro que procuravam, se
entreolharam com a preocupação de que o pescador quisesse roubar o
tesouro.
“Não,
eu não estou.” - o homem respondeu então,
tranquilizando-os. - “Sou um pirata muito rico que já encontrou
muito mais tesouro do que precisava para poder viajar pelos mares do
mundo, mas posso ajudá-los a encontrar o tesouro de vocês se
quiserem. Que tipo de tesouro estão procurando?” - perguntou.
“Moedas de ouro.
Um baú cheio delas.”
“Com barras de
ouro também.”
“E relógios de
pulso de ouro.”
“E medalhas de
ouro que são melhores do que dinheiro.”
“E pedras de
diamante.”
Contrariado com o
rumo do falatório, José protestou:
“Espera
um pouco, senhor pirata, que não é bem por aí.” - disse.
E o lembrou do que havia dito. - “A gente não está procurando
nenhum ouro, não. Na verdade, a gente vai pegar o assassino do
morango e receber muitas recompensas por causa disso. A gente vai
ficar famoso e muito rico.”
Surpreendidos, os
meninos olharam para José como que esperando que
ele se desculpasse e voltasse atrás no que havia dito, o que não
aconteceu. José estava decidido em encontrar o assassino do morango.
O pescador, ao perceber o impasse formado, pôs fim na discussão e
interveio, dizendo:
“Não
é preciso brigar, garotos. É simples: encontraremos o
tesouro tão rápido que vai sobrar bastante tempo para pegar o
assassino do morango. Mas, antes, vamos até a minha ilha que eu peço
para os meus companheiros piratas ajudarem a gente. Eles são muito
bons de encontrar tesouros e capturar inimigos.”
Um dos meninos
perguntou:
“Conhece, de
verdade, outros piratas, senhor pirata?”
“Claro que sim.”
- o pescador assegurou. - “Como não os conheceria? Nós, piratas,
vivemos em sociedade, estamos sempre viajando juntos.”
“E onde eles estão
agora?” - José perguntou.
O homem
pensou por alguns instantes antes de dizer:
“Como disse, estão
na ilha. Querem conhecê-los?”
“Queremos!” - os
meninos exclamaram ao mesmo tempo.
*****
Os meninos saltaram
para dentro de um barco no qual quase não couberam sentados devido
ao pouco espaço e puseram-se a remar em direção a ilha, ao
encontro dos piratas. Remavam sem descanso, ansiosos por chegarem
logo, e remavam sozinhos pois o pescador parecia muito mais ocupado
em observar se eram seguidos por alguém. Quanto mais se distanciava
da praia mais seu comportamento se revelou estranho em comparação
com o de antes, quando conhecera os meninos.
“Falta
muito para a gente chegar, senhor pirata?” - com os braços
doloridos de tanto remar, José perguntou.
Os meninos o
encararam com atenção.
“Não, garoto.”
- o pescador respondeu. - “Continue mexendo os braços. Quanto mais
rápido você remar, mais cedo a gente chega na ilha e mais cedo vai
conhecer os meus amigos piratas.”
Continuou remando
então tal como os demais meninos.
Pouco menos de uma
hora depois, tempo intermeado por curtos intervalos de pausa para que
pudessem descansar, o homem avistou a ilha.
“Bom
trabalho, garotos, aquela é a ilha!” - parabenizou-os. -
“Não desistam que é só mais algumas remadas e a gente chega!”
Desembarcaram em uma
pequena faixa de areia.
José
e os amigos, um metro à frente de onde estavam, avistaram dois
morangos, ainda frescos, caídos
na prainha.
“O assassino está
na ilha, senhor pirata!” - um dos meninos exclamou, apreensivo. -
“Que é que a gente faz agora?” - perguntou.
“Vamos até a
cabana, garotos!” - no intuito de fazer com que os meninos se
tranquilizassem, o homem se apressou em mobilizá-los. - “Lá,
estaremos bem seguros e defendidos de qualquer um desses assassinos
malvados!”
José e os meninos o
seguiram de pronto. Se embrenharam em uma pequena selva só de
coqueiros e continuaram andando, até que se depararam com a cabana.
“Enfim,
chegamos!” - o homem abriu a porta e os meninos entraram em um
lugar precário, com todos os indícios de abandono.
“Mas onde estão
os piratas que você disse que ficaram na ilha, senhor pirata?” -
José perguntou, intrigado. - “Não estou vendo ninguém aqui.”
O homem respondeu
com normalidade:
“Os piratas? Ah,
sim, provavelmente, devem estar protegendo o tesouro ou me esperando
voltar em alguma outra parte da ilha. Prometo que vamos descobrir
aonde eles foram; isso não será um problema para nós.” - sem
motivo nenhum, começou a ficar impaciente e rude
com os meninos, pouco disponível à fantasia que ele
próprio alimentara de ser um pirata. -
“Fiquem aqui que eu já volto!” - mandou. - “Não façam
nada que possam se arrepender depois!”
“Aonde você vai?”
- José perguntou.
“Não é da sua
conta, garoto.” - o homem abriu a porta e saiu da cabana,
deixando-os sozinhos.
“Que a gente faz
agora?” - um dos meninos perguntou para José.
José encarou o
amigo e logo respondeu:
“É
óbvio o que a gente vai fazer: a gente vai esperar ele
voltar.” - disse.
Os amigos o
encaravam com a expressão de quem discordava frontalmente. Não
estavam certos de que estariam seguros sozinhos, afinal, havia um
assassino na ilha.
“Vocês são uns
lerdos que ainda não entenderam!” - José explicou então. - “Está
na cara que ele foi procurar os outros piratas para que possam ajudar
a gente a capturar o assassino.”
Os meninos aceitaram
a explicação. José, por sua vez, por mais que
não transparecesse, começou a desconfiar de que algo não corria
bem. Inquieto e curioso, procurou alguma coisa ao redor com que
pudesse se distrair, passar o tempo, mas não havia nada por perto
além de uma mesa velha e duas cadeiras colocadas ao longo de um
atraente corredor escuro.
“Aonde
você vai, José?”
- perguntou, um dos amigos, ao vê-lo de frente para o corredor,
ameaçando entrar.
“Eu quero saber o
que é que tem lá no fundo.” - disse, José. - “Vocês não
estão com medo, estão?”
“Lógico que não,
seu idiota!” - outro menino exclamou com a imediata concordância
de todos. - “Pode ir se quiser, mas vai sozinho porque a gente vai
esperar o pirata voltar, como ele mandou que a gente fizesse aliás.”
“Mas não demora,
está bem?” - outro menino emendou.
“Pode deixar.” -
José respondeu. - “Volto logo.”
Ao entrar no
corredor, foi exatamente assim que José Estrada
agiu: pôs-se a explorá-lo como se estivesse em uma das suas
aventuras no esgoto. Passo por passo, não muito longe de onde havia
deixado os amigos, deparou-se com uma porta encostada no final do
corredor e, de pronto, a empurrou para que abrisse e pudesse ver o
que tinha do outro lado.
Por
um miserável instante, não conseguiu acreditar no que seus olhinhos
enxergaram. Reencontrara
seu pai e ele estava vivo, porém, não parecia estar nada bem. Sem
forças, amarrado em uma cadeira, Tozé viu-se devastado ao rever o
filho naquele lugar e
presenciando aquelas
condições em que ele atravessava.
“Papai?”
“Fuja
daqui, filho!”
“Por que, papai?”
“Fuja, José!”
Apavorado e
sem entender o porquê, José voltou então correndo para perto dos
amigos, só que já era tarde demais. O homem que havia fantasiado
ser um pirata, com um machadinho nas mãos, admirava os novos
morangos caídos aos seus pés.
“Por
que não diz um oi aos seus amiguinhos, garoto?”
FIM

Eu li um pedaço e já gostei , teu trabalho e muito bom já to te seguindo a algum tempo e vejo teu ótimo trabalho amei viu parabéns .
ResponderExcluirMaria, me magoou com esse lance de só ter ligo um pedaço, rs.
ExcluirNão sabe o que perdeu, rs.
Maria, se eu pudesse te dar um conselho, seria pra você nunca deixar de ler até o final. Você sempre vai se surpreender ao ler tudo!
ExcluirObrigado pelo apoio, Suellen, rs, quem tem amigo não morre pagão, rs.
ExcluirUaaau, a leitura me prendeu totalmente! Confesso que fiquei curiosa para saber sobre o motivo da palavra "morango" rsrsr Não previa o final da história, e acho que deveria ter uma continuação porque tem um gancho bem legal para isso acontecer =D
ResponderExcluirParabéns!
Ana Paula, obrigado pelos elogios.
ExcluirOs tais morangos da história são as cabeças degoladas pelo assassino do arquipélago. Uma metáfora apetitosa p/ uma coisa tão macabra, não, rsrs?
Sobre uma possível continuação, não vai rolar.
A-D-O-R-E-I o conto. Simplesmente incrível. Eu já estava imaginando que o final seria esse, mas isso não fez o conto ser chato. Uma parte que eu gostei muito foi esse suspense e o mistério. Parabéns e com certeza lerei outros contos seus :D
ResponderExcluirLuana, ganhei a noite lendo este teu maravilhoso comentário, rs.
ExcluirObrigado. #AmeiTeVerPorAqui
Noooooooossa! Jesus, Maria, José! Nem sei o que dizer. Cadê José pelo amor de Deus? Eu estava ficando desesperada. Não! Eu estou desesperada! Ele me parecia tão esperto. Como foi cair na conversa desse pirata? Felizmente as crianças de hoje não caem mais nessas fantasias. Se eu fosse a Dona Venezuela eu amarrava esse menino na cama. O que eu mais achei sensacional, foi que a história teve um desfecho inimaginável. Eu fiquei tão surpresa... Fiquei sem fôlego! A forma como você escreveu esse conto, me lembrou a escrita do Ganymedes José. Tirando esse desfecho macabro, é claro. kkkk Os diálogos bem realistas e o "morango" foi um eufemismo perfeito. Parabéns, pela escrita, moço! Amei!
ResponderExcluirMenina Sabida, não acredito que ainda não sabe, rs!
ExcluirRespondo: o menino José foi assassinado pelo pirata.
Muito obrigado mesmo pelo teu comentário; sem palavras. Digo apenas um volte sempre, rs!
Podia me poupar dessa clareza com uma outra metáfora do tipo: "O pirata fez um suco de morango com José!" Hehehe Ficou péssimo, né? rsrsrs Pode deixar que eu volto, sim! Abraço!
Excluirkkk, isso aew!
ExcluirAdorei! Você escreve muito bem, parabéns!
ResponderExcluirObrigado mesmo, Cíntia, fico feliz que tenha gostado!
ExcluirBem-vinda ao blog!
Rob, vi que você disse que não vai ter continuação, como assim???? Tô sem saber o que pensar, sério!!! Queria saber o que levou o pai de José a estar nessas condições... Esse assassino teria ameaçado sua família? E José, realmente teve um fim como os outros? O tempo todo Venezuela tinha razão... Chego a conclusão de que mãe sempre sabe das coisas.
ResponderExcluirEu achei muito incrível, muito incrível mesmo. Foi um dos que mais gostei. Parabéns mil vezes!!!
Suellen, obrigado pelo teu comentário. Não terá continuação, não. É um conto.
ExcluirQue bom que gostou; volte sempre!
Olá, Rob!
ResponderExcluirQue conto foi esse? Fiquei sem fôlego ao desenrolar dele. Você escreve demais.
Fiquei com tanta dó do José. Por favor não nos deixe assim, quero saber o que vai acontecer com José e seus amigos e também sobre o seu pai.
Cássia, obrigado pelo comentário e que bom que gostou do conto!
ExcluirVamos às respostas: o que aconteceu com o pai de José ficou em aberto, mas acredito que não foi nada bom, rs. Sobre o final do José e seus amigos, sendo bem direto e insensível, rs, eles morreram, foram mortos pelo pescador.
Abraço, espero não ter amargado com seu dia, kkk
Caralho, rapaz, que final temço e.e
ResponderExcluirOLHA A BOCA, MENINO! kkk
ExcluirGostou mesmo do final? Eu também. Levei semanas p/ escrever esse conto.
Ficou em aberto, mas também deixei claro o que aconteceria com os personagens.